sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Versão de Amar

Não quero sequer ouvir o eco do meu pensamento...
O som incomoda e desperta em mim uma agressividade que recai sobre aqueles de quem mais gosto. Optei, com tudo o que isso implica por ser uma MULHER só!
Gosto de quem gosto, adoro aqueles que me são especiais e que tocam na minha essência...não viveria sem saber que esses, estão sempre lá. Prefiro partir antes das suas viagens. Nem sequer consigo imaginar o mundo sem as suas presenças, visto pela minha redoma tão frágil, que a qualquer movimento mais suspeito estala e parte.
Ontem, alguém muito especial, comparou o amor a uma pessoa que tinha visão e ficou enublado por uma cegueira total. Algo completamente diferente de quem viveu na escuridão uma vida inteira. Quando alguém que amamos nos deixa, ficamos entorpecidos nessa cegueira total que nos leva ao vazio, ao nada, à miséria humana. Algo tão ou mais frio, amargo ou esvaziante quanto a morte. Sei lá...Desconheço ambos. Pelo menos quando a outra dimensão, plano, mistério nos tira e leva o nosso amor, ficamos com a sua espiritualidade, as suas memórias, os seus abraços, a sua essência, agarrada e residente em nós para todo a nossa eternidade. Engarrafamos em nós, o seu perfume, o seu toque, o seu corpo, a sua alma, a sua..., a NOSSA vida!!
Sentimos que não sentimos, que nos desnudaram por completo, ficamos vazios, inertes, desnorteados!
O que fazer perante a perda? Não sei, talvez ninguém saiba.



Nunca amei nem fui amada com essa intensidade, dimensão talvez. Apenas tive um rasgo, um sabor desse sentimento quando era criança, um amor cândido, ingénuo, naif, o verdadeiro talvez. Para mim foi, julgo! Era algo que me consumia as forças em prol do outro, esse alguém a quem era capaz de dar a minha vida. Esperava de madrugada para o ver partir com a sua avó, a minha avó, a D. Hortense. Era o Ricardo, para mim, o coração de leopardo. Guardo-o  para sempre no meu coração. Obrigada por me teres ensinado a amar, os outros podem dar-lhe outro nome, mas a inocência pura fez de mim, uma pessoa melhor, e por isso sou mais exigente no acto de amar.
Dizem que tudo é eterno enquanto dura, não poderemos nós prolongar essa eternidade desse outro para todo o nosso sempre? Mesmo quando esse alguém parte para outro alguém ou outro plano?
Acredito que sim, que tudo é possível, desde que nós queiramos. Tornar para sempre nosso, aquele ou aquela que é a nossa alma gémea. A viagem nunca termina sem haver uma hipótese de retorno, agora ou no futuro. Esse passageiro que nos acompanhou, seguirá, talvez noutro lugar do mundo, sempre connosco, mesmo que não pareça, ele está sempre no banco do lado. Um dia, noutro contexto, noutra situação, noutro mundo, voltaremos a dar as mãos e seremos de novo um só ser. Uma plenitude de almas. É assim que vejo o conceito de alma gémea. Nunca encontrei a minha, talvez nunca a encontre, mas acredito que ela esteja em algum lugar à minha espera sem eu o saber e ela também não. A todos os que amam desta forma, nunca deixem de  amar esse alguém que foi e continuará a ser sempre nosso.
Transportamo-lo-emos para o resto das nossas vidas, mesmo que durante o percurso surjam novos companheiros de viagem, que até nos podem encantar e voltar a fazer com que sintamos um amor ainda maior. Mas...o outro, o que amamos como se fosse o último e único amor, estará sempre lá e faz parte de nós. Absorvemo-lo.
Esta é a forma como entendo o amor através da partilha das experiências dos outros e do que transmitem e eu retenho. Só quero guardar o que é bom de guardar. Perante isto, ajoelho-me e resigno-me a um amor universival, único, transcendente, brutal. Bebendo este amor intenso e acreditando que talvez um dia deixe de descrevê-lo e passe a senti-lo. Estou disponível para algo assim.

06.01.10

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